domingo, 25 de fevereiro de 2024

CUBA: UM PAÍS FALIDO

 


Em Havana fizemos um free walking tour e o nosso guia (Alexandre) foi explorando as ruas de Havana Vieja, contando a história de Cuba, desde o processo de colonização até os dias de hoje e descrevendo os vários problemas atuais do país. A tour demorou umas 4h.
O guia era médico e ganhava 30Eur/dia, por isso, tendo em conta que no fim do tour recebeu 25€ de nós os 5, mais o que recebeu dos outros 3 turistas do grupo, em 4h de visita ganhou mais do que num mês a trabalhar como médico. Insólito não é!!?

A ilha de Cuba, tem quase a mesma área e a mesma população do que Portugal, mas a população está cansada de muitos anos de escassez enfrentando agora a pior crise económica dos últimos 27 anos. Esta crise tem levado à maior emigração dos últimos anos, de gente que foge da pobreza e instabilidade política.
Neste post vou falar mais detalhadamente sobre Cuba e dos seus problemas.

 
Tópicos deste artigo:

História;
A Vida Cubana;
Alimentos;
Saúde;
Educação;
Transportes;
Comunicação;
Habitação;


HISTÓRIA

Resumindo um pouco a história de Cuba, depois da revolução cubana em 1959 o país “divorciou-se” dos EUA, que apoiava o antigo governo.
Depois de Cuba ter feito muitas nacionalizações que afetaram os negócios norte-americanos, o governo dos EUA impôs muitas restrições às importações cubanas, até que o governo cubano indemnizasse os cidadãos norte-americanos pelas nacionalizações.




Nos anos 60, Cuba aderiu ao comunismo com o objetivo de se aproximar da União Soviética, que tinha interesse estratégico militar na região.

Os soviéticos, espertos, mandaram dinheiro para os cubanos deixarem instalar mísseis nucleares em Havana, de maneira que em caso de guerra, esses mísseis conseguiriam atingir Washington em apenas 13 minutos.

Foi aqui que tudo se complicou e depois de dias de tensão e aviões espiões americanos derrubados, os EUA e a Rússia entraram em acordo. Os soviéticos desativaram os mísseis em Cuba e os americanos fizeram o mesmo na base que tinham na Turquia.


O período em que Cuba recebeu dinheiro da Rússia foi muito bom, mas era mal gerido pelo governo cubano, pois o dinheiro era desviado. O povo melhorou alguma coisa de vida, acreditando por isso na revolução. Com a saída da Rússia, Cuba sofreu uma grande crise e atualmente, com mais acesso à informação, a revolução já não convence ninguém, principalmente os mais jovens que nunca tiveram qualquer melhoria de vida.


 

Esse embargo dos EUA ainda está em vigor, embora nas últimas décadas tenha sido aumentado ou parcialmente atenuado em diferentes ocasiões governativas. O governo de Bill Clinton reforçou o embargo e durante a presidência de Barack Obama, as relações entre os EUA e Cuba melhoraram e surgiram medidas para suavizar a situação. Mas, após a posse de Donald Trump o embargo foi novamente reforçado. Depois da eleição de Joe Biden, tudo permanece suspenso.

Para o governo do atual presidente de Cuba, Miguel Díaz, o embargo é o responsável pelo descontentamento cubano, pela situação económica e pela falta de liberdade no país, justificando assim o fracasso da revolução. 


A VIDA CUBANA

Mesmo que o embargo dificulte o comércio com os EUA, tornando tudo mais caro, o grande culpado pela má gestão económica do país é o governo por causa do seu monopólio estatal e pouca iniciativa privada.
Os mais idosos, que tiveram uma vida melhor na altura em que a Rússia injetava dinheiro em Havana, são capazes de apoiar o governo, ou os jovens militares por interesse. No entanto, segundo o nosso guia a maioria do povo não apoia o regime, nem o governo.



É evidente o desalento sobre o futuro de Cuba entre os cubanos. É difícil a situação mudar. Todo o sistema político cubano faz para manter uma classe pobre, dependente do estado e ocupada na sobrevivência, sustentando uma elite política que vive muito bem às custas do cubano escravizado pelo estado.

Em Cuba são os trabalhos privados que dão mais dinheiro, pois o Estado tem dificuldade em manter um bom nível salarial, pagando muito mal os empregos estatais.

A maior parte dos cubanos que trabalham no sector estatal não ganha mais que 500 pesos/mês (19€). Um director de escola ou um médico com 2 anos de experiência pode chegar a ganhar 800 pesos (30€). O problema é que os produtos são muito caros e um pacote de bolachas custa cerca 50 pesos (2€), 10% do ordenado da maioria. Uma televisão nova custa 250 pesos (10€), mas compram-nas usadas, ou recebem-nas de presente de parentes que trabalham fora do país.

O salário de um cubano é obviamente insuficiente para viver.



Os melhores empregos ficam com as pessoas mais influentes (políticos). A corrupção é generalizada e está presente em todos os níveis hierárquicos.

Os cubanos que trabalham para o estado, duma maneira geral, gostavam de sair do país, mas tem muita dificuldade em fazê-lo por vários motivos:

Conseguir um passaporte para sair do país é muito burocrático e caro;

É obrigatório ter uma casa em seu nome e uma poupança de 5 mil euros, mas com o pouco que ganha é difícil conseguir comprar um imóvel ou ter esta poupança, a não ser que alguém fora de Cuba o ajude.

Se conseguir finalmente sair da ilha e não voltar em 2 anos, perde a sua casa para o governo.

Mesmo assim, no ano passado saíram 150 mil cubanos do país, o maior número da história de Cuba.



ALIMENTOS

A capital cubana tem lojas e supermercados, mas nem sempre garantem aos seus clientes o abastecimento com todos os produtos.

A alimentação básica, em contrapartida, está garantida graças à instituição de um registo (caderneta) que permite adquirir produtos básicos a preços mais baixos - arroz, açúcar, feijão, leite ou até tabaco, entre outros - nas chamadas bodegas (as lojas de bairro). Cada família ou casa tem um registo independentemente do seu nível económico. Por exemplo, todos os cubanos têm direito a um pão por dia na caderneta, a 0,05 pesos. Pode comprar mais, fora da caderneta, mas nesse caso terá de pagar bem mais. O mesmo acontece com outros produtos. Os produtos são insuficientes, mas são uma importante ajuda, pois devido às sanções eles não chegam facilmente à ilha.


Em qualquer supermercado há pouca variedade e apenas produtos essenciais.

Os donos de restaurantes privados, como têm pesos disponíveis compram muitos dos produtos disponíveis, inflacionando os seus preços. Assim, os restantes cubanos mesmo que tenham dinheiro para pagar, não conseguem determinados produtos em lado nenhum, como é o caso por exemplo dos iogurtes e dos ovos.



O governo controla, uma cadeia de supermercados própria, chamadas de Panamericanas que só aceitam pagamentos com cartão de crédito, só têm preços em dólares e não aceitam pesos cubanos. O guia explicou-nos que na pandemia Cuba deixou de ter turistas, deixando de haver entrada de dólares e euros, então criaram estes supermercados para ir buscar os dólares. Muitos têm familiares que vivem no estrangeiro que carregam estes cartões com dólares para poderem comprar alguma coisa para comer nestes supermercados. Quem não tem parentes no exterior, ou consegue dólares com os turistas ou pede a alguém que tenha cartão de crédito para comprar nestas lojas.

Com restrições de importação, os produtos que tem lá é no mínimo curioso. Entrámos numa que tinha muito álcool, mas também muitas prateleiras vazias e muito poucos produtos e preços exorbitantes. Por exemplo um litro de leite custava 4,10USD e um litro de azeite 14,70USD.



SAÚDE

Cuba é reconhecida pela excelência na área da saúde oferecendo um sistema público de saúde muito valorizado. De uma simples gripe a um cancro, tudo é tratado de graça.
O médico que foi o nosso guia disse, no entanto, que é pura propaganda! O sistema de saúde está totalmente falido.
O seu salário de médico em Cuba com 2 anos de experiência é de 30€ e a cada 5 anos pode aumentar cerca de 10€.


Segundo ele as farmácias estão vazias. Se precisar de algum medicamento para tratar um doente, o mais certo é não haver esse medicamento nas farmácias e caso o doente morra por falta de tratamento adequado, a culpa é do médico e não do governo. Se precisarem por exemplo de uma seringa, têm de comprar no mercado negro, porque não há disponíveis em lado nenhum.


Os medicamentos e diversos produtos em Cuba estão sujeitos a pagar elevadas taxas de alfândega para entrarem no país. 

Se um médico resolver deixar o país por sua conta e risco, não poderá regressar e perde o curso de medicina, porque o governo apaga todo o histórico escolar e noutro país terá que trabalhar como empregado sem qualificações.

Os últimos médicos cubanos a trabalhar em Portugal recebiam apenas 21% do salário bruto. Portugal pagava mensalmente por cada médico a uma empresa estatal cubana cerca de 4.230 euros, mas cada médico cubano só recebia 900 euros (21%), sendo a diferença retida pelo Estado cubano. Chama-se a isto exploração!!



EDUCAÇÃO


Cuba é reconhecida pela excelência na área da educação. Tem uma taxa de alfabetização quase de 100% e é gratuita até à faculdade, por isso, quase todos os cubanos com mais de 30 anos têm formação de Ensino Superior.
Porém, depois do curso tirado terá de fazer 2 anos de trabalho social a receber metade do ordenado. Se não quiser fazer este trabalho, tiram-lhe o diploma e impedem-no de exercer a profissão.
Ora, aqui vemos que a educação não é gratuita como se vangloriam, pois neste caso o curso está a ser pago com trabalho.




Em Cuba é proibido ter atividades autónomas e privadas na área da saúde, por exemplo se um médico exercer medicina de forma privada e cobrar pela consulta, perde a sua licença.

Segundo o governo esta restrição acontece porque os médicos (ou outra profissão) receberem educação gratuita dada pelo governo, por isso, é para o governo que tem de trabalhar.


TRANSPORTES

O táxi é do estado, mas o motorista é autónomo e paga um aluguer mensal ao estado e impostos sobre os serviços que faz. Esta situação acontece, quer nos táxis normais, quer nos carros antigos de passeio.

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Em Havana, passam-se horas em filas para os combustíveis. O principal fornecedor de combustível é a Venezuela e a suas refinarias, devido à falta de manutenção não têm gasolina nem gasóleo para enviar para Cuba. Por isso, o fornecimento de petróleo bruto e combustíveis da Venezuela tem vindo a descer abruptamente nos últimos anos. Por outro lado, recentemente as centrais eléctricas em Cuba avariaram, aumentando o uso de geradores que consomem gasóleo, combustível necessário para o abastecimento dos carros a gasóleo.

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Cuba já foi o país da América Latina a importar mais carros dos EUA e também um dos países do mundo inteiro com mais veículos em circulação. No entanto, com a chegada de Fidel Castro ao poder, ele colocou um embargo às importações estrangeiras, incluindo as de carros. Assim, até há bem pouco tempo não entravam carros novos em Cuba. Este embargo acabou em 2016 quando o irmão de Fidel Castro, Raúl Castro, retirou a lei. Porém, continua a ser muito difícil comprar automóveis novos, porque, por um lado um cubano não tem dinheiro para o fazer e por outro as importações são muito caras e há muita burocracia, o que faz com que os modelos vintage continuem a estar em maior número que os modelos novos.

Assim, a compra de automóveis novos é feita principalmente por pessoas com um alto estatuto.


COMUNICAÇÃO

O governo controla os meios de comunicação em Cuba, restringe o acesso a informações externas e censura críticos e jornalistas independentes.

A internet é livre, mas não é gratuita e as pessoas de uma maneira geral não têm internet em casa. Para terem internet vão até praças de Wifi do estado, mas para usarem precisam de um cartão pré-pago que dá acesso à internet.

Os cartões são vendidos nos comércios locais e nas lojas da ETECSA, a empresa estatal de comunicação. Nós alugámos um cartão a um local por 10Eur. Porém, velocidade da internet era muito baixa e falhava muitas vezes.



A explicação que me deram para a internet ser livre, tendo em conta que a comunicação social é controlada, foi porque depois de Fidel falecer, o seu irmão Raul assumiu a presidência e o povo não tendo muita simpatia por ele, não concordou com a continuação familiar.  Então, Raul teve de ceder em algumas questões, para ser aceite pelo povo sem resistência e a internet móvel livre foi uma das medidas.

Foi também esta medida que fez com que os cubanos conseguissem confrontar a propaganda do estado com a sua própria pesquisa na internet e têm descoberto pela internet as mentiras do governo aumentando o descontentamento e a revolta.


HABITAÇÃO

 
Já falei na saúde, educação, alimentação que são precários e degradantes em Cuba, e claro que a habitação não é diferente.



Numa casa cubana vivem de 3 a 5 famílias em situação precária. A razão para tantas pessoas morarem na mesma casa é a falta de casas dignas para todos.

Alguns apartamentos têm o andar dividido com as chamadas “barbacoas”, uma espécie de andar intermédio para alojar mais pessoas no mesmo apartamento. O resultado é um teto muito baixo e um ambiente quente e abafado.

Um apartamento simples, custa entre 5 e 10 mil dólares. É impossível para um cubano juntar este valor para comprar uma casa com o salário de 30 a 40€/mês que mal dá para se alimentar. Por esta razão, várias famílias dividem o mesmo apartamento.




Raul Castro está com uma idade avançada (92 anos) e o povo está cada vez mais farto da miséria do país.
Se eu voltar algum dia, espero encontrar uma ilha diferente onde as pessoas sejam mais felizes.




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