Em
Havana fizemos um free walking tour e o nosso guia (Alexandre) foi explorando
as ruas de Havana Vieja, contando a história de Cuba, desde o processo de
colonização até os dias de hoje e descrevendo os vários problemas atuais do
país. A tour demorou umas 4h.O
guia era médico e ganhava 30Eur/dia, por isso, tendo em conta que no fim do tour
recebeu 25€ de nós os 5, mais o que recebeu dos outros 3 turistas do grupo, em
4h de visita ganhou mais do que num mês a trabalhar como médico. Insólito não
é!!?
A ilha de Cuba, tem
quase a mesma área e a mesma população do que Portugal, mas a população está
cansada de muitos anos de escassez enfrentando agora a pior crise económica dos
últimos 27 anos. Esta crise tem levado à maior emigração dos últimos anos, de
gente que foge da pobreza e instabilidade política.Neste post vou falar mais
detalhadamente sobre Cuba e dos seus problemas.
Tópicos deste artigo:
História;
A Vida Cubana;
Alimentos;
Saúde;
Educação;
Transportes;
Comunicação;
Habitação;
HISTÓRIA
Resumindo um
pouco a história de Cuba, depois da revolução cubana em 1959 o país
“divorciou-se” dos EUA, que apoiava o antigo governo.
Depois de Cuba ter feito muitas
nacionalizações que afetaram os negócios norte-americanos, o governo dos EUA impôs
muitas restrições às importações cubanas, até que o governo cubano indemnizasse
os cidadãos norte-americanos pelas nacionalizações.
Nos anos 60, Cuba aderiu ao comunismo com o objetivo de se aproximar da União Soviética,
que tinha interesse estratégico militar na região.
Os soviéticos,
espertos, mandaram dinheiro para os cubanos deixarem instalar mísseis nucleares
em Havana, de maneira que em caso de guerra, esses mísseis conseguiriam atingir
Washington em apenas 13 minutos.
Foi aqui que tudo
se complicou e depois de dias de tensão e aviões espiões americanos derrubados,
os EUA e a Rússia entraram em acordo. Os soviéticos desativaram os mísseis em
Cuba e os americanos fizeram o mesmo na base que tinham na Turquia.
O período em que Cuba recebeu dinheiro da Rússia foi muito bom, mas era mal gerido pelo governo cubano, pois o dinheiro era desviado. O povo melhorou alguma coisa de vida, acreditando por isso na revolução. Com a saída da Rússia, Cuba sofreu uma grande crise e atualmente, com mais acesso à informação, a revolução já não convence ninguém, principalmente os mais jovens que nunca tiveram qualquer melhoria de vida.
Esse embargo dos EUA ainda está em vigor, embora nas últimas décadas tenha sido aumentado ou parcialmente atenuado em diferentes ocasiões governativas. O governo de Bill Clinton reforçou o embargo e durante a presidência de Barack Obama, as relações entre os EUA e Cuba melhoraram e surgiram medidas para suavizar a situação. Mas, após a posse de Donald Trump o embargo foi novamente reforçado. Depois da eleição de Joe Biden, tudo permanece suspenso.
Para o governo do atual presidente de
Cuba, Miguel Díaz, o embargo é o responsável pelo descontentamento cubano, pela
situação económica e pela falta de liberdade no país, justificando assim o
fracasso da revolução.
A VIDA CUBANA
Mesmo que o embargo
dificulte o comércio com os EUA, tornando tudo mais caro, o grande culpado pela
má gestão económica do país é o governo por causa do seu
monopólio estatal e pouca iniciativa privada.
Os
mais idosos, que tiveram uma vida melhor na altura em que a Rússia injetava
dinheiro em Havana, são capazes de apoiar o governo, ou os jovens militares por
interesse. No entanto, segundo o nosso guia a maioria do povo não apoia o
regime, nem o governo.
É evidente o desalento sobre o futuro de Cuba entre os cubanos. É difícil a situação mudar. Todo o sistema político cubano faz para manter uma classe pobre, dependente do estado e ocupada na sobrevivência, sustentando uma elite política que vive muito bem às custas do cubano escravizado pelo estado.
Em Cuba são os trabalhos privados que dão mais dinheiro, pois o Estado tem dificuldade em manter um bom nível salarial, pagando muito mal os empregos estatais.
A maior parte dos cubanos que trabalham no sector estatal não ganha mais que 500 pesos/mês (19€). Um director de escola ou um médico com 2 anos de experiência pode chegar a ganhar 800 pesos (30€). O problema é que os produtos são muito caros e um pacote de bolachas custa cerca 50 pesos (2€), 10% do ordenado da maioria. Uma televisão nova custa 250 pesos (10€), mas compram-nas usadas, ou recebem-nas de presente de parentes que trabalham fora do país.
O salário de um cubano é obviamente insuficiente para viver.
Os melhores empregos ficam com as pessoas mais influentes (políticos). A corrupção é generalizada e está presente em todos os níveis hierárquicos.
Os cubanos que trabalham para o estado, duma maneira geral, gostavam de sair do país, mas tem muita dificuldade em fazê-lo por vários motivos:
Conseguir um passaporte para sair do país é muito burocrático e caro;
É obrigatório ter uma casa em seu nome e uma poupança de 5 mil euros, mas com o pouco que ganha é difícil conseguir comprar um imóvel ou ter esta poupança, a não ser que alguém fora de Cuba o ajude.
Se conseguir finalmente sair da ilha e não voltar em 2 anos, perde a sua casa para o governo.
Mesmo assim, no ano passado saíram 150 mil cubanos do país, o maior número da história de Cuba.
ALIMENTOS
A capital cubana tem lojas e supermercados, mas
nem sempre garantem aos seus clientes o abastecimento com todos os produtos.
A alimentação básica, em contrapartida, está
garantida graças à instituição de um registo (caderneta) que permite adquirir
produtos básicos a preços mais baixos - arroz, açúcar, feijão, leite ou até
tabaco, entre outros - nas chamadas bodegas (as lojas de bairro). Cada família
ou casa tem um registo independentemente do seu nível económico. Por exemplo,
todos os cubanos têm direito a um pão por dia na caderneta, a 0,05 pesos. Pode
comprar mais, fora da caderneta, mas nesse caso terá de pagar bem mais. O mesmo
acontece com outros produtos. Os produtos são insuficientes, mas são uma
importante ajuda, pois devido às sanções eles não chegam facilmente à ilha.
Em qualquer supermercado há pouca variedade e apenas produtos essenciais.
Os donos de restaurantes privados, como têm pesos disponíveis compram muitos dos produtos disponíveis, inflacionando os seus preços. Assim, os restantes cubanos mesmo que tenham dinheiro para pagar, não conseguem determinados produtos em lado nenhum, como é o caso por exemplo dos iogurtes e dos ovos.
O governo controla, uma cadeia de supermercados própria, chamadas de Panamericanas que só aceitam pagamentos com cartão de crédito, só têm preços em dólares e não aceitam pesos cubanos. O guia explicou-nos que na pandemia Cuba deixou de ter turistas, deixando de haver entrada de dólares e euros, então criaram estes supermercados para ir buscar os dólares. Muitos têm familiares que vivem no estrangeiro que carregam estes cartões com dólares para poderem comprar alguma coisa para comer nestes supermercados. Quem não tem parentes no exterior, ou consegue dólares com os turistas ou pede a alguém que tenha cartão de crédito para comprar nestas lojas.
Com restrições de importação, os produtos que tem lá é no mínimo curioso. Entrámos numa que tinha muito álcool, mas também muitas prateleiras vazias e muito poucos produtos e preços exorbitantes. Por exemplo um litro de leite custava 4,10USD e um litro de azeite 14,70USD.
SAÚDE
Cuba é reconhecida pela
excelência na área da saúde oferecendo um sistema público de saúde muito
valorizado. De uma simples gripe a um cancro, tudo é tratado de graça.
O médico que foi
o nosso guia disse, no entanto, que é pura propaganda! O sistema de saúde está
totalmente falido.
O seu salário de
médico em Cuba com 2 anos de experiência é de 30€ e a cada 5 anos pode aumentar
cerca de 10€.
Segundo ele as farmácias estão vazias. Se precisar de algum medicamento para tratar um doente, o mais certo é não haver esse medicamento nas farmácias e caso o doente morra por falta de tratamento adequado, a culpa é do médico e não do governo. Se precisarem por exemplo de uma seringa, têm de comprar no mercado negro, porque não há disponíveis em lado nenhum.
Os medicamentos e diversos produtos em Cuba estão sujeitos a pagar elevadas taxas de alfândega para entrarem no país.
Se um médico resolver deixar o país por sua conta e risco, não poderá regressar
e perde o curso de medicina, porque o governo apaga todo o histórico escolar e noutro
país terá que trabalhar como empregado sem qualificações.
Os últimos médicos cubanos a trabalhar
em Portugal recebiam apenas 21% do salário bruto. Portugal pagava mensalmente
por cada médico a uma empresa estatal cubana cerca de 4.230 euros, mas cada
médico cubano só recebia 900 euros (21%), sendo a diferença retida pelo Estado
cubano. Chama-se a isto exploração!!
EDUCAÇÃO
Cuba é reconhecida
pela excelência na área da educação. Tem uma taxa de alfabetização quase de
100% e é gratuita até à faculdade, por isso, quase todos os cubanos com mais de
30 anos têm formação de Ensino Superior.
Porém, depois do
curso tirado terá de fazer 2 anos de trabalho social a receber metade do
ordenado. Se não quiser fazer este trabalho, tiram-lhe o diploma e impedem-no
de exercer a profissão.
Ora, aqui vemos que
a educação não é gratuita como se vangloriam, pois neste caso o curso está a ser
pago com trabalho.
Em Cuba é proibido ter atividades autónomas e privadas na área da saúde, por exemplo se um médico exercer medicina de forma privada e cobrar pela consulta, perde a sua licença.
Segundo o governo esta restrição acontece porque os médicos (ou outra profissão) receberem educação gratuita dada pelo governo, por isso, é para o governo que tem de trabalhar.
TRANSPORTES
O táxi é do estado, mas o motorista é
autónomo e paga um aluguer mensal ao estado e impostos sobre os serviços que
faz. Esta situação acontece, quer nos táxis normais, quer nos carros antigos de
passeio.
.
Em Havana, passam-se horas em filas
para os combustíveis. O principal fornecedor de combustível é a Venezuela e a
suas refinarias, devido à falta de manutenção não têm gasolina nem gasóleo para
enviar para Cuba. Por isso, o fornecimento de petróleo bruto e combustíveis da
Venezuela tem vindo a descer abruptamente nos últimos anos. Por outro lado,
recentemente as centrais eléctricas em Cuba avariaram, aumentando o uso de
geradores que consomem gasóleo, combustível necessário para o abastecimento dos
carros a gasóleo.
Cuba
já foi o país da América Latina a importar mais carros dos EUA e também um dos
países do mundo inteiro com mais veículos em circulação. No entanto, com a
chegada de Fidel Castro ao poder, ele colocou um embargo às importações
estrangeiras, incluindo as de carros. Assim, até há bem pouco tempo não
entravam carros novos em Cuba. Este embargo acabou em 2016 quando o irmão de
Fidel Castro, Raúl Castro, retirou a lei. Porém, continua a ser muito
difícil comprar automóveis novos, porque, por um lado um cubano não tem
dinheiro para o fazer e por outro as importações são muito caras e há muita burocracia,
o que faz com que os modelos vintage continuem a estar em maior número que os
modelos novos.
Assim, a compra de automóveis novos é
feita principalmente por pessoas com um alto estatuto.
COMUNICAÇÃO
O governo controla os meios de
comunicação em Cuba, restringe o acesso a informações externas e censura
críticos e jornalistas independentes.
A internet é livre, mas não é gratuita e as pessoas de uma maneira geral não têm internet em casa. Para terem internet vão até praças de Wifi do estado, mas para usarem precisam de um cartão pré-pago que dá acesso à internet.
Os cartões são vendidos nos comércios locais e nas lojas da ETECSA, a empresa estatal de comunicação. Nós alugámos um cartão a um local por 10Eur. Porém, velocidade da internet era muito baixa e falhava muitas vezes.
A explicação
que me deram para a internet ser livre, tendo em conta que a comunicação social
é controlada, foi porque depois de Fidel falecer, o
seu irmão Raul assumiu a presidência e o povo não tendo muita simpatia por ele,
não concordou com a continuação familiar.
Então, Raul teve de ceder em algumas questões, para ser aceite pelo povo
sem resistência e a internet móvel livre foi uma das medidas.
Foi também esta medida que fez com que os cubanos conseguissem confrontar a propaganda do estado com a sua própria pesquisa na internet e têm descoberto pela internet as mentiras do governo aumentando o descontentamento e a revolta.
HABITAÇÃO
Já
falei na saúde, educação, alimentação que são precários e degradantes em Cuba,
e claro que a habitação não é diferente.
Numa
casa cubana vivem de 3 a 5 famílias em situação precária. A razão para tantas
pessoas morarem na mesma casa é a falta de casas dignas para todos.
Alguns
apartamentos têm o andar dividido com as chamadas “barbacoas”, uma espécie de
andar intermédio para alojar mais pessoas no mesmo apartamento. O resultado é
um teto muito baixo e um ambiente quente e abafado.
Um
apartamento simples, custa entre 5 e 10 mil dólares. É impossível para um
cubano juntar este valor para comprar uma casa com o salário de 30 a 40€/mês
que mal dá para se alimentar. Por esta razão, várias famílias dividem o mesmo
apartamento.
Raul Castro está com uma idade avançada (92 anos) e o povo está
cada vez mais farto da miséria do país.
Se eu voltar algum dia, espero encontrar uma ilha diferente
onde as pessoas sejam mais felizes.
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